No coração da mata atlântica de São Paulo, no espaço cultural Toka da Onça Oka, pessoas de diversos cantos do Brasil, chegavam neste encontro singular que prometia unir sabedorias ancestrais e reflexões sobre a relação do ser humano com a natureza. Estavam entusiasmadas e esperançosas. E não é para menos. Satish Kumar, fundador do Schumacher College, na Inglaterra, nos aguardava com doçura e brilho nos olhos. O motivo da vinda ao Brasil era o lançamento do seu livro Amor Radical, em portugues.
Eu, que vinha do outro lado da cidade, e já havia atravessado São Paulo inteira de metrô, chegava curiosa. Fazia frio, mas sabia que teria uma recompensa: entrevistar Satish. Ou pelo menos, me aproximar e fazer algumas perguntas a este grande mestre que inspirou novas formas de aprender. Mas ainda teria que participar do mutirão amor radical de replantio da mata nativa, organizado pela escola Schumacher Brasil.
Foi um dia repleto de significados e histórias do povo indígena originário de Abya Yala e das terras indianas do Sul da Ásia. As conversas permearam temas como pertencimento à terra, espiritualidade e a harmonia entre homem e ambiente. Falamos da importância de movimentos socioambientais em São Paulo e então chegou o momento “mão na massa.” Tínhamos o objetivo de plantar 150 mudas de árvores nativas da Mata Atlântica. Era o mínimo que podíamos fazer para aquela área do Jaraguá tão desmatada devido a urbanização desordenada.
Quem esteve presente pode trocar conhecimentos com Tamikuã Txihi, respeitada líder do movimento de resistência e do centro educacional Toka da Onça Oka. Em roda de conversa Tamikuã falou sobre a natureza, originalidade e como ambos os povos se relacionam com a terra, compartilhando seus pensamentos e experiências distintas de cada lado do globo.
Até então, não havia me aproximado para a minha entrevista. Mas de repente, a oportunidade de fazer a minha pergunta surgiu. “Satish, quais são as coisas mais importantes que você considera para sua vida?” Ele respondeu gentil e com sabedoria. “Ver beleza em todos os lugares. Ter gratidão a todos os seres e amor em tudo o que faz”. Já para Tamikuã, que compartilhou seu pensamento em seguida, disse “Entender que a Natureza é viva, é consciente, é inteligente, é linda, é sagrada. Temos que aprender isso com nossos ancestrais”.
A volta para casa, ao contrário da ida, foi quentinha e revigorante. A sensação de conforto contrastava com a expectativa e ansiedade da chegada. Estava feliz e nutrida, pelo almoço típico preparado pelos moradores da aldeia, e também com a alma tranquila pois cumpri minha missão.Durante o trajeto de retorno, refletia sobre os ensinamentos que recebi e a satisfação imensa de ter plantado, com minhas próprias mãos, mais de 20 árvores.
Cada árvore representava uma contribuição direta ao meio ambiente, e como diz Tamikuã, uma nova vida. Essa experiência trouxe uma bem-vinda inspiração para continuar minha jornada em busca de conhecimento e saberes antigos. Esse sentimento de dever cumprido e conexão com a natureza renovou minhas energias e fortaleceu minha determinação para seguir aprendendo e preservando as tradições que tanto valorizo.